Sociologia e História da Alimentação
Objetivos
Esta unidade curricular pretende fornecer aptidões para a compreensão do fenómeno alimentar em toda a sua complexidade.
No final da unidade curricular, o estudante deverá ter conhecimentos sobre:
a) A evolução da dietética e das práticas alimentares da Humanidade das origens à atualidade;
b) O corpo e a saúde como construção social. Principais conceitos sociológicos relevantes para a análise das condicionantes sociais no processo saúde-doença e a sua relação com a alimentação na sociedade contemporânea;
c) O ato alimentar e os hábitos alimentares adquiridos no processo de socialização;
d) Os alimentos analisados numa perspetiva política, ética, de sustentabilidade e de risco.
Caracterização geral
Código
41002
Créditos
3
Professor responsável
Prof.ª Doutora Iva Miranda Pires
Horas
Semanais - A disponibilizar brevemente
Totais - A disponibilizar brevemente
Idioma de ensino
Português
Pré-requisitos
n.a.
Bibliografia
. Aschemann-Witzel, J; Hooge, I; Almli, V (2021). My style, my food, my waste! Consumer food waste-related lifestyle segments. Journal of Retailing and Consumer Services 59, 102353.
. Barreto M, Gaio V, Kislaya I, Antunes L, Rodrigues AP, Silva AC, Vargas P, Prokopenko T, Santos AJ, Namorado S, Gil AP, Alves CA, Castilho E, Cordeiro E, Dinis A, Nunes B, Dias CM. (2016). 1º Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico (INSEF 2015): Estado de Saúde. Lisboa: INSA IP.
. Berry et al. (2015). Food security and sustainability: can one exist without the other?. Public Health Nutrition: 18(13), 22932302
. Bevilacqua, S. (2010). Un « régime méditerranéen » bon à penser, Anthropology of food 7 / dezembro, http://aof.revues.org/6600.
. Bourlessas, P; Cenere, S; Vanolo, A. (2021): The work of foodification: an analysis of food gentrification in Turin, Italy, Urban Geography, DOI: 10.1080/02723638.2021.1927547
. Braga, Isabel M.Drumond (2010). Sabores do Brasil em Portugal. Descobrir e transformar novos alimentos (séculos XVI-XXI), Editora Senac, São Paulo.
. Carapinheiro, Graça (1986). A saúde no contexto da sociologia, Sociologia Problemas e Práticas (1) 9-22.
. Davidson, Alan (2015). Social Determinants of Health a comparative approach. London: Oxford University Press.
. Ekebas-Turedi,C; Cilingir,Z; Basfirinci, C & Pinar, M (2021) A Cross-Cultural Analysis of Gender-Based Food Stereotypes and Consumption Intentions among Millennial Consumers, Journal of International Consumer Marketing, 33:2, 209-225, DOI: 10.1080/08961530.2020.1771644
. Evans, D. (2012). Beyond the throwaway society: ordinary domestic practice and a sociological approach to household food waste. Sociology 46(1) 4156.
. Fichler, Claude, L'homnivore (1990). Le goût, la cuisine et le corps, Odile Jacob, Paris. (existe PDF da trad. Castelhana)
. Flandrin, Jean-Louis - Montanari, Massimo (2018, 9ª ed.). História da Alimentação, vols. I e II, trad. Portuguesa, Lisboa : Estação Liberdade.
. Gaio, V., Antunes L, Namorado S, Barreto M, Gil, A.P., Kyslaya I., Rodrigues AP, Santos A, Bøhler L, Castilho E, Vargas P, do Carmo I, Nunes B, Dias CM (2017). Prevalence of overweight and obesity in Portugal: Results from the First Portuguese Health Examination Survey (INSEF). Obesity Research & Clinical Practice, 12. pii: S1871-403X(17)30077-7. doi: 10.1016/j.orcp.2017.08.002. [Epub ahead of print] https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28916268.
. Graça, P.(2020). Como comem os portugueses. Lisboa: Fundação Manuel dos Santos
. Gregório, M.J., Mendes de Sousa, S., Teixeira, D. (2020). Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. Lisboa: Direção-Geral da Saúde.
. Guedes Vaz, S. (2017). Implicações éticas dos comportamentos do cidadão consumidor.
. Instituto de Medições e Avaliação da Saúde (IHME), (2019). "Health effects of dietary risks in 195 countries, 1990-2017: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2017" , Lancet, Washington,in https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(19)30041-8/fulltext
. Lipovetsky, G. (2004), O crepúsculo do dever A ética indolor dos novos tempos democráticos. Dom Quixote: Porto, 235-250.
. Luiz, O. C. Cohn A. (2006). Sociedade de risco e risco epidemiológico, Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11), 2339-2348
. Marmot, Michael (2005). Social determinants of Health Inequalities. The Lancet vol 365, 2005: 1099-1104.
. Mcqueen, D., Kickbusch, I, Potvin, L.; Pelikan, J., Balbo, L., Abel, A. (2007). Health modernity - The Role of Theory in Health Promotion, Springer.
. Minayo, M.C. (2002). Enfoque Ecossistêmico de Saúde e Qualidade de Vida, in Saúde e ambiente sustentável: estreitando nós, Minayo, M.C.; Miranda, A. (orgs.), 173-189.
. Modlinska, K; Adamczyk, D; Maison, D; Pisula, W (2020). Gender Differences in Attitudes to Vegans/Vegetarians and Their Food Preferences, and Their Implications for Promoting Sustainable Dietary PatternsA Systematic Review. Sustainability, 12, 6292. doi:10.3390/su12166292
. Murphy, Sophia e Schiavoni, Christina M. (2017). Dez anos após a crise alimentar mundial: enfrentar o desafio do direito à alimentação. Observatório do Direito à Alimentação e Nutrição, pp 19-30.
. Namorado S, Santos J, Antunes L, Kislaya I, Santos AJ, Castilho E, Cordeiro E, Dinis A, Barreto M, Gaio V, Gil AP, Rodrigues AP, Silva AC, Alves CA, Vargas P, Prokopenko T, Nunes B, Dias CM. (2017). 1º Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico (INSEF 2015): Estado de Saúde. Lisboa: INSA IP.
. Nettleton, Sarah (2006). The sociology of the body. In The sociology of health and Illness. Cambridge: Polity Press (pp. 104-136)
. Ornellas e Castro, Inês de (2011). Prática médica e alimentação nos textos portugueses seiscentistas in Fontes da Costa, P. e Cardoso, A. (coord.) Percursos na História do Livro Médico (1450-1800), Colibri, Lisboa, 73-91. (será fornecida versão PDF)
. Ornellas e Castro, Inês de (2012). Discursos e Rituais na Mesa Romana: luxo, moralismo e equívocos in Carmen Soares e Paula Barata Dias (coord.), Contributos para a História da Alimentação na Antiguidade, col. Humanitas Supplementum, 69-79. URL: https://bdigital.sib.uc.pt/jspui/handle/123456789/126
. Palfrey, C. (2018). The future for Health promotion, Policy Press. Nettleton, Sarah (2006) The sociology of the body. In The sociology of health and Illness. Cambridge: Polity Press (pp. 104-136)
. Poulain, Jean-Pierre (2004). A obesidade e a medicalização da alimentação cotidiana. In Sociologia da Alimentação: os comedores e o espaço social alimentar. Florianópolis: UFSC. (pp. 113-147)
. Prüss-Ustün J. Wolf C. Corvalán T. Neville R. Bos M. Neira (2017). Diseases due to unhealthy environments: an updated estimate of the global burden of disease attributable to environmental determinants of health, Journal of Public Health, Volume 39, Issue 3, 1 September, Pages 464475.
. Richter, B., (2017). Knowledge and perception of food waste among German consumers. J. Clean. Prod. 166, 641-648.
. Rombach, M; Bitsch, V (2015). Food Movements in Germany: Slow Food, Food Sharing, and Dumpster Diving. International Food and Agribusiness Management Review, Volume 18 Issue 3
. Silva, L. (2008). Saber Prático de Saúde. As lógicas do Saudável no Quotidiano, Porto: Edições Afrontamento.
. Silva, L. F (2013). Saúde e Doença no saber Leigo, in Alves, Fátima (Org.), Saúde, Medicina e Sociedade. Uma visão sociológica, Lisboa: Pactor, p. 171-178.
. Sobral, J. M. (2007). Nacionalismo, Culinária e Classe: a Cozinha Portuguesa da Obscuridade à Consagração (séculos XIX-XX), in Ruris, 2, Revista do Centro de Estudos Rurais e Urbanos, IFCH-Unicamp, Campinas: 13-52.
. Solar O, Irwin A. (2010). A conceptual Framework for action on the social determinants of health. Social Determinants of Health Discussion. Paper 2 (Policy and Practice).
. Soromenho-Marques Neves (org.). Ambiente, Edições 70, 351-368.
. Truninger, M. (2010). O campo vem à cidade: agricultura biológica, mercado e consumo sustentável. Lisboa: ICS. Imprensa de Ciências Sociais
Método de ensino
A UC está organizada em aulas teórico-práticas: duas aulas teórico-práticas semanais de carácter expositivo, com a duração de 50 minutos cada. As sessões de cada um dos módulos do programa serão asseguradas por docentes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa.
Método de avaliação
A avaliação inclui duas componentes: a) uma no final de cada módulo, com a ponderação final de 60% e b) um exame final, quantificado este entre 0 e 20 valores, com a ponderação de 40%.
a) Avaliação por módulos (60%)
No Módulo I - A avaliação contínua do módulo I será composta por uma ficha trabalho escrito individual, realizada com consulta, fora do espaço de aula. A ficha será distribuída na segunda aula do módulo e deverá ser entregue uma semana após o final do módulo (20%).
No Modulo II - A partir do tema Saúde e Alimentação, os alunos, organizados em grupos, devem realizar uma apresentação oral que deverá seguir os seguintes critérios:
a) apresentação de um tema/problema (especificação das questões de partida e objetivos do trabalho), articulando com referências bibliográficas abordadas em aula;
b) Apresentação dos dados oriundos das fontes estatísticas exploradas;
c) Discussão dos resultados e reflexão sobre a contribuição da problemática para as Ciências da Nutrição (20%).
No Módulo III Cada grupo de trabalho escolherá um texto da bibliografia recomendada para preparar uma apresentação de power point na aula e orientará a discussão envolvendo os colegas (20%).
b) Exame Final (40%)
Exame individual, escrito, abarcando toda a matéria.
Conteúdo
Introdução
Introdução ao programa, sua estrutura e conteúdo, forma de funcionamento das aulas e modos de avaliação (Iva Pires)
I. História da Alimentação
Docente: Inês Ornellas de Castro
1. O alimento como medicamento:
1.1. Dos primeiros passos da dietética ao Canon de Autoridades Ocidental
1.2. Das Teorias dos Humores e da Grande Cadeia dos Seres: a construção e a evolução de uma doutrina
1.3. Das três fases da cura: a importância do regime alimentar
1.4. Dos alimentos nos tratados de higiene portugueses até ao século XVIII
2. Partilhar um território, partilhar uma cultura (Mediterrâneo Antigo e Europa Medieval):
2.1. Espaço rural/urbano: organização do espaço agrícola e ideais de regime autárcico
2.2. Religiões e liturgia da mesa: alimentos da imortalidade e cozinha sacrificial
2.3. Rotas comerciais marítimas e recursos fluviais: luxos versus recursos
2.4. Formas ancestrais de conservação de produtos alimentares
3. A Europa e as heranças (des)continuadas
3.1. O regresso das especiarias e os Descobrimentos
3.2. Mel e açúcar de cana: da botica à cozinha
4. O século XVI e a divulgação de espécies do Oriente e do Novo Mundo
4.1. A assimilação de novos produtos nos espaços ibérico e mediterrânico: o peru, o milho maiz, a batata, o tomate, etc...
4.2. A introdução das novas bebidas de sociabilidade: chá, café e chocolate.
5. Alimentação e convivialidade
5.1. Dos modelos de sociabilidade à mesa: o espaço, o corpo e o serviço
5.2. Do serviço à Francesa ao serviço à Russa: implicação nas escolhas de produtos e nas técnicas de cozinha
6. Estética, "Bom gosto" e cozinhas identitárias
6.1. A estética da mesa e o triunfo do conceito de "bom gosto" (finais do século XVII-XVIII)
6.2. A influência dos livros de cozinha nas práticas alimentares
II. Sociologia da Saúde e da Alimentação
Docentes: Helena Serra e Ana Paula Gil
1. A construção social da saúde e da doença
2. O corpo e a saúde como construção social
3. Os Determinantes da Saúde num mundo globalizado
4. Estado de Saúde da população portuguesa e seus determinantes: comportamentos saudáveis versus de risco
5. Saudável no quotidiano e a promoção da saúde
6. Alterações nas conceções de dieta e saúde
6.1. Dietas, obesidade e as imagens do corpo
6.2. Obesidade e medicalização do consumo alimentar
7. A alimentação e construção de identidades
III. Alimentação: questões económicas, sociais, éticas e ambientais
Docente: Iva Pires
1. Industrialização e Globalização da alimentação
1.1 O alimento: da cozinha para a fábrica
1.2 Globalização dos sistemas Alimentares e dos Consumos
2. Género e Alimentação
Questões de género associadas à produção, distribuição e preparação de alimentos
3. Movimentos Sociais e estilos de vida associados à alimentação
3.1 Emergência e globalização do movimento Slow Food
3.2 Consumir orgânico, local e sustentável
3.3 Veganismo e Freganismo
3.4 Gourmet Food Culture and Foodies
4. Os alimentos analisados numa perspetiva política, ética, de sustentabilidade e risco
4.1 Alimentação e sustentabilidade
4.2 Riscos e Segurança do alimento
A perceção do consumidor em relação aos riscos dos alimentos
Comportamentos face aos riscos associados aos alimentos
4.3 Soberania alimentar e Justiça Alimentar
4.4 Desigualdades no Acesso à alimentação: escassez e excesso
Segurança alimentar e Desperdício alimentar