Tópicos de Teoria da Literatura
Objetivos
Esta unidade curricular tem um cariz monográfico, refletindo a investigação em curso do docente responsável. Serão discutidos tópicos de teoria literária em referência a uma seleção de textos que nela se enquadrem, com os seguintes objetivos de aprendizagem:
(1) familiarizar os alunos com questões e conceitos fundamentais de teoria literária a partir da análise textual e de problemas de interpretação suscitados por obras literárias, críticas e filosóficas;
(2) assegurar o amadurecimento das suas capacidades analíticas e estimular a teorização a partir de textos literários;
(3) garantir que tal teorização se fundamente a nível textual e seja congruente numa perspectiva filosófica e históricoliterária;
(4) assegurar que os conhecimentos adquiridos se traduzam para uma escrita clara, coerente, rigorosa e relevante.
Caracterização geral
Código
722091106
Créditos
10.0
Professor responsável
Golgona Luminita Anghel
Horas
Semanais - 3
Totais - 280
Idioma de ensino
Português
Pré-requisitos
N/A
Bibliografia
AGAMBEN, Giorgio. Bartleby, escrita da potência. Editora Assírio & Alvim: Lisboa,
2007.
BAPTISTA, Abel Barros. “Prática teórica”. in Conferências do cinquentenário da Teoria da Literatura de Vítor Aguiar da Silva. Braga: Universidade de Minho, 2020, pp. 49-66.
BAPTISTA, Abel Barros. “Sim, Bartleby”. in Autobibliografias: solicitação do livro na ficção de Machado de Assis. Tese de Doutoramento apresentada à FCSH-UNL, 1995, pp. 212-228.
BATAILLE, Georges. A Literatura e o Mal (1957). Lisboa: Letra Livre, 2017.
BECKETT, Samuel. À espera de Godot(1952). Lisboa: Cotovia, 2001.
___. Quad et autres pièces pour la télévision. Paris: Éditions de Minuit, 1999.
BENJAMIN, Walter. Ensaios sobre Literatura. Trad. J. Barrento. Lisboa: Assírio & Alvim, 2016.
BERKMAN, Gisèle. L’Effet Bartleby. Philosophes lecteurs. Paris: Herman, 2011.
BLANCHOT, Maurice. O espaço literário(1955). Trad. A. Cabral, Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1987.
___. L’Entretien infini. Paris: Gallimard, 1969.
DELEUZE, Gilles. « Michel Tournier ou le monde sans autrui », in Logique du sens. Paris : Minuit, 1969, pp. 350-372.
DELEUZE, Gilles. « Bartleby, ou la formule », in Critique et clinique. Paris : Minuit, 1993, pp. 89-115.
DIDI-HIBERMAN, Georges. Rabbia poetica. Note sur Pier Paolo Pasolini, Cairn, 2013/1 N° 143 | pp. 114- 124.
DURAS, Marguerite. « Écrire », in Écrire. Paris : Gallimard, 1993, pp. 11-55.
GROYS, Boris. Becoming an Artwork. Cambridge : Polity Press, 2023.
JAMES, Henry. A Fera na Selva. Traduzido por Ana Maria Pereirinha. Lisboa: Dom Quixote, 2023.
KAFKA, Franz,. Todos os Contos. Traduzido do alemão por Álvaro Gonçalves. Lisboa: Assírio & Alvim, 2023.
LAPOUJADE, David. Fictions du pragmatisme. William et Henry James. Paris: Minuit, 2008.
LOPES, Silvina Rodrigues. Literatura, Defesa do atrito. Lisboa: Vendaval, 2003.
MELVILLE, Herman. Bartleby, o escrivão (1853). Lisboa: Presença, 2009.
PASOLINI, Pier Paolo. “A raiva”. [“Gli anni della rabbia”, número 38, 1962, in revista Vie Nuove.] In: Le belle bandiere: Dialoghi 1960-1965. Roma, Riuniti, 1996, II ed., p. 222.
TOURNIER, Michel. Sexta-feira ou Os limbos do Pacífico (1967). Lisboa: Relógio d’Água, 2014.
Filmografia
PASOLINI, Pier Paolo. La rabbia, 1963.
TRUFFAUT, François. La chambre verte, 1978.
Método de ensino
Leitura de textos teóricos e textos literários, traçando a partir deles linhas de conceptualização que constroem teorias.
Análise e discussão de teses, construção de problemas.
Método de avaliação
A avaliação terá duas componentes:
1) uma apresentação oral, a partir de questões desenvolvidas nas aulas: 30%;
2) um trabalho escrito sobre as matérias estudadas: 70%.
Conteúdo
O poeta encontra alegria no “imenso erro das coisas e toda a fábula se inspira no princípio do mal” – afirma Herberto Helder, no seu livro Photomaton & Vox. As alianças da literatura com o domínio do mal e do diabólico, que Herberto reclama, fazem ecoar um horizonte de reflexão que se tem tornado persistente na literatura ocidental desde As Flores do Mal, mas cujos sintomas se faziam notar desde a antiga querela entre poetas e filosofia, de que o último livro da República de Platão é testemunho. Este percurso intempestivo da figura do poeta e do seu ofício pouco oficioso foi decisivamente marcado pelo livro de Georges Bataille, A Literatura e o Mal. No seu prefácio, Bataille parte de uma premissa pouco lisonjeadora, mas que, profetiza a liberdade e a insubmissão da literatura diante dos fins de uma sociedade utilitária. Por mais insensato que pareça, é este princípio, “non serviam”, que também garante a soberania do “espaço literário”, ao mesmo tempo que legitima um caminho de desmesura, que se situa para além dos valores do bem e do mal e até, por vezes, do humano. Partindo deste horizonte de insubmissão e resistência que assombra e que, simultaneamente, defende a autonomia da literatura, o seminário vai procurar propor um conjunto de experiências de leitura em que a teoria faz parte desse processo de experimentação do texto, suscitando assim diferentes perspectivas acerca das possibilidades da literatura, do seu poder e da sua impotência.
Tópicos:
1. A violência como potência de liberdade e de força de ressignificação da literatura (e das outras artes)
2. Pasolini, da fúria poética enquanto acto de linguagem à raiva enquanto gesto do coração, de pathos (La Rabbia)
3. Melville, Bartleby e a performatividade da fórmula (Bartleby, o escrivão)
4. Melville, da palavra-coisa à palavra-acção(Bartleby, o escrivão)
5. Kafka, sobrevivência e estetização do corpo do artista (“O artista da fome”)
6. Kafka e a criação a partir do interdito (“Josefina, a cantora ou o Povo dos ratos”)
7. Beckett, o fracasso necessário (À espera de Godot)
8. Beckett, cansado de alguma coisa, esgotado de nada (À espera de Godot, Quad et autres pièces pour la télévision)
9. James, o celibato como condição de existência (A Fera na Selva)
10. James, a percepção do tempo da espera, o demasiado tarde (A Fera na Selva)
11. Tournier, viver no limbo, a ilha deserta e o mundo sem o outro (Sexta-feira ou Os limbos do Pacífico)
Cursos
Cursos onde a unidade curricular é leccionada: