História da Tecnologia e da Engenharia
Objetivos
O objectivo da disciplina de História da Tecnologia é, em termos globais, envolver os alunos num conjunto de conteúdos que lhes permita constituir um núcleo de conhecimentos ao nível da cultura científica e técnica.
Pretende-se que a disciplina funcione como um catalisador para a reflexão dos alunos sobre a essência do seu próprio métier, levando-os a interrogarem-se sobre a natureza da técnica (afinal, o seu futuro objecto profissional), a comprenderem os diversos papeis e níveis de protagonismo que a tecnologia assumiu e assume na sociedade europeia e a sedimentarem uma cultura de responsabilidade do tecnólogo face ao todo social.
Neste sentido a organização do programa privilegia uma abordagem de momentos históricos seleccionados que perspective as relações entre tecnologia e sociedade, partindo, certamente, de objectos e dispositivos materiais, mas incorporando-os e "lendo-os" no interior de um sistema de elaboração de conhecimentos e de interacções com as restantes estruturas do todo social.
Os objectivos da disciplina podem ser, assim, sumariados nos seguintes pontos:
(i) plano das aprendizagens/aquisição de conhecimentos:
* compreender a estrutura interna do universo tecnológico, suas interrelações com a ciência e sua relação em termos dos contextos económico, político, social e cultural;
* compreender o processo de identificação da estrutura tecnológica com o conceito de progresso;
* entender a produção e a prática tecnológicas como uma dinâmica entre sucesso e fracasso;
* dominar conceitos fundamentais para a compreensão da produção e difusão do saber tecnológico;
* estudar um conjunto seleccionado de modificações no sistema tecnológico fundamentais no desenvolvimento da matriz civilizacional da Europa;
(ii) plano da aquisição de competências:
* perspectivar a tecnologia numa dimensão histórica, permitindo uma visão dinâmica do conhecimento tecnológico;
* construir uma memória crítica sobre o papel da tecnologia e da engenharia na sociedade europeia;
* desenvolver o sentido de responsabilidade social do produtor de tecnologia.
Caracterização geral
Código
10914
Créditos
3.0
Professor responsável
Maria Paula Pires dos Santos Diogo
Horas
Semanais - 2
Totais - 34
Idioma de ensino
Português
Pré-requisitos
N/a
Bibliografia
Bibliografia de consulta obrigatória
- Cardwell, D., The Fontana History of Technology, Londres, Fontana Press, 1994
- McClellan, J.E., Dorn, H., Science and Technology in World History, Baltimore, The Johns Hopkins University Press, 2006
- Misa, T.J., Leonardo to the Internet, Baltimore, The Johns Hopkins University Press, 2004
- Mowery, D., Rosenberg, N., Paths of Innovation, Cambridge, Cambridge University Press, 1998
- Reynolds, T.S., Cutcliffe, S.H. (eds.), Technology and the West: A Historical Anthology from Technology and Culture, Chicago, The University of Chicago Press, 1997.
Notas: 1) A bibliografia indicada está disponível na Biblioteca da FCT/UNL; 2) Para cada ponto do programa será indicada bibliografia suplementar, que poderá ser consultada no Moodle (www.dcsa.fct.unl.pt) mediante a palavra passe indicada aos alunos da disciplina. 3) As aulas baseiam-se nas obras indicadas, sendo os conteúdos sumariados nos apontamentos da disciplina, também disponíveis no site acima referido.
Filmografia sugerida:
•Le Voyage dans la Lune (Viagem à Lua), George Méliès, 1902
•Metropolis, Fritz Lang, 1927
•Frankenstein, James Whale, 1931
•Modern Times (Tempos Modernos), Charlie Chaplin, 1936
•Forbidden Planet (Planeta Proibido), Fred Wilcox, 1956
•Mon Oncle (O Meu Tio), Jacques Tati, 1958
•Playtime (Vida Moderna), Jacques Tati, 1967
•2001 A Space Odissey (2001, Odisseia no Espaço), Stanley Kubrick, 1968
•THX 1138, George Lucas, 1971
•Blade Runner (Perigo Iminente), Ridley Scott, 1982
•Dune, David Lynch, 1984
•The Name of The Rose (O Nome da Rosa), Jean-Jacques Annaud, 1986
•Wallace and Gromit: The Wrong Trousers, Nick Park (animação), 1993
•Wallace and Gromit: A Grand Day Out, Nick Park (animação), 1993
•Matrix (I), Wachowsky Brothers, 1999
Método de ensino
A disciplina tem duas horas de aulas teórico-práticas, onde a exposição dos conteúdos do programa são assegurados pelo docente, utilizando-se diversos materiais didáticos considerados relevantes, nomeadamente iconografia diversa, extractos de obras científicas, técnicas e de literatura, em ambos os casos coevas da matéria leccionada na sessão, e filmes (cf. filmografia indicada para a disciplina). Procura-se sempre estimular nos alunos uma leitura crítica e integrada destes materiais didáticos nos conteúdos do programa através dos quais serão directamente avaliados (consulte-se métodos de avaliação).
Método de avaliação
De acordo com as novas normas de avaliação, História da Tecnologia e da Engenharia inclui-se no Grupo A, ou seja avaliação contínua.
1. Dois mini-testes (ver datas no Moodle e confirmar junto do docente) .
Peso na nota final: 50% (25% cada mini-teste)
O 1º teste não tem nota mínima; o 2º teste tem a nota mínima de 6 valores.
2. Um trabalho individual composto pela resposta online, no Moodle, de um quizze. A validação do quizze é feita automaticamente, no fim de cada questionário, quando o aluno atinge o número de respostas correctas previamente definido pelo docente. No caso de não ter preenchido os parâmetros mínimos,o aluno recebe uma indicação que deve repetir-
Peso na nota final: 10%.
Data limite para a realização do quizze: 19 de Janeiro 2024, às 23 horas.
3. Trabalho em duo: pequeno comentário sobre um filme
Peso na nota final:10%
Data limite para entrega: 19 de Janeiro 2024, às 23 horas. Entrega via mail com a indicação em assunto: HTE-COMENTÀRIO.
4. Um trabalho de grupo (máximo 4 pessoas). Os alunos terão de escolher um objecto técnico e organizar uma tour/apresentação do objecto, de acordo com um guião.
Peso na nota final: 30%.
Datas para este trabalho: Os grupos e os temas do trabalho de grupo deverão ser entregues à docente até dia 14 de Novembro 2023. Apresentação: 12 de Dezembro de 2023 (power point e pequeno texto-guião; tempo máximo de apresentação: 10 minutos; ver check list para o trabalho).
NOTA IMPORTANTE: No caso de alunos que façam exame de recurso, este substitui os mini-testes, mas não isenta o aluno dos trabalhos práticos, que são elementos obrigatórios para obtenção de frequência.
Conteúdo
1. Aspectos metodológico
1.1 A percepção contemporânea da tecnologia. A tecnologia como elemento de referência da métrica do progresso: abordagem em diacronia. 1.2 Definição de algumas questões conceptuais básica: acumulação vv revolução. ; função e conotação do trabalho técnico; a noção de "sistema técnico", criatividade/construção social da tecnologia, de invenção/inovação. As "Leis de Kranzberg".
2. Elementos para uma História da Tecnologia
2.1.1 Uma técnica operativa: civilizações pré-clássicas, clássicas. A técnica como estrutura socio-política, como elemento lúdico e como resolução de problemas práticos.
2.1.2 Do arquitecto egípcio ao engenheiro romano.
2.2.1 Técnica e quotidiano na sociedade medieval. Elementos de mudança na Idade Média: agricultura, forças motrizes e verticalidade.
2.2.2 Arquitectos, mestres-pedreiros e engenheiros: percursos de diferenciação identitária
2.3.1 Uma técnica interrogativa: compreender a natureza para a dominar. O papel das cortes europeias como mecenas. O renascimento: Leonardo da Vinci, a guerra e o voo; Francis Bacon e a tecnologia como programa de mudança da sociedade; Galileu, a resistência dos materiais e os conceitos de máquina e de eficácia.
2.3.2 Os engenheiros da Renascença: as escolas alemã e italiana. A tratadística como elemento de fundamentação de um espaço profissional autónomo e de reconhecimento interpares. A perspectiva e a imprensa na base da difusão do saber técnico e do expert.
2.4.1 O tempo dos mecanismos: maturação e proficiência técnicas no século XVII: balística, autómatos, jogos de água e novas energias. Na ante-câmara da era industrial: a primeira metade do século XVIII: energias e manufacturas.
2.4.2 O engenheiro e o domínio da mecânica.
2.5.1 A era da Indústria: tecnologia e manufactura, tecnologia e indústria. Estudos sobre electricidade e ar. No centro da revolução: energia e maquinaria, materiais e comunicação. A emergência e consolidação da cultura industrial: as exposições universais e a literatura de ficção científica; nova percepção do tempo e do espaço e tecnologia no quotidiano.
2.5.2 A idade da ciência e da técnica. A formação das grandes escolas de engenharia francesas. Os modelos de formação de engenheiros continental e anglo-saxónico. A importância do modelo de formação de engenheiros alemão. A institucionalização do engenheiro como centro do universo cognitivo industrial.
2.6.1 O triunfo do universo técnico. Novas características dos sistemas técnicos do século XX (i). Massificação, utilitarismo e democratização do objecto. A indústria automóvel. Arquitectura e design., (ii) o carácter contagiante, "research-intensive" e institucional: energia (motores de combustão interna e electricidade), materiais (indústria química) e tratamento da informação (computadores e internet). Ciência/Tecnologia/Sociedade: tecnociência e projectos de investigação orientados; Big Technology; “conhecimento codificado” e controlo social da tecnologia; tecnologia/meio ambiente, tecnologia/meio social: risco/pericialidade.
2.6.2 O plano Marshall e o modelo de engenharia americano.
2.7 Questões éticas da engenharia: reflexões em torno do "síndroma de HAL" e da lei de Moore.
3. O caso português
3.1 Estruturas económica e tecnológica: da prosperidade dos descobrimentos às opções do século XIX
3.2 Anatomia de uma profissão: percursos de afirmação do engenheiro não-militar